“Escovadores de ovelhas” prontos a liderar

Josué Campanhã é um dos nomes de referência quando se fala em liderança cristã no Brasil. Há mais de 40 anos, ele trabalha para capacitar e estimular a formação de novos líderes. Por meio da Envisionar, parceira da RTM Brasil e organizadora, no país, do Leadership Global Summit, ele potencializa novas lideranças por meio de cursos e de iniciativas a bem das igrejas locais. Nesta entrevista à Revista RTM Brasil, Campanhã faz uma análise do papel do pastor e do líder e fala sobre a cultura da liderança na igreja brasileira. Confira os principais trechos a seguir.

 

Quais são os grandes desafios na área de formação de liderança cristã no Brasil?
Creio que primeiro a mentalidade dos pastores e das igrejas que desejam ter líderes prontos para delegar funções ou pessoas dispostas a assumir desafios, que mesmo sem capacitação cumpram seu dever.  Não temos uma cultura de capacitação continuada de líderes. Ou chamamos pessoas para os cargos e dizemos que Deus as capacitará ou delegamos e fechamos os olhos. Precisamos de "processos", e o processo de capacitação de líderes é um deles. Não entendemos que Jesus primeiro investiu no processo de discipulado e depois disso no processo de capacitação de liderança. Ele foi do discipulado ao apostolado, ou seja, do discipulado à liderança. O desafio maior é criar uma cultura de capacitação por meio de um processo. 

 

Quais são os elementos mais fundamentais no processo de formação de liderança (investimento de tempo, talentos, paciência, perseverança)?
Quanto tempo demora formar um líder? Bem, Jesus gastou cerca de três anos e meio, então já dá para imaginar quanto precisamos. Não bastam cursos de final de semana ou palestras motivacionais. Terceiro, precisamos pensar em capacitar não apenas para preencher os cargos da igreja, mas líderes que sirvam na igreja e na sociedade. Isto muda completamente o conteúdo, a forma e as ênfases do programa. 

 

Ser mais pastor ou ser mais líder? Como saber qual a maior necessidade de uma igreja ou quando a saída é conciliar os papéis? 
Creio que não é uma coisa ou outra, mas uma e outra. Algumas pessoas têm mais o coração e a mente de pastores. É o que chamamos de "escovar ovelha". Outros têm mais a característica de empreendedores, mais voltados para liderar. Este perfil foi dado por Deus e, conforme 1 Coríntios 12, Deus deu esses dons e colocou-os na igreja conforme sua vontade. Então, se alguém tem mais a característica de pastor, precisa exercer isso com excelência e buscar ajuda e pessoas que o auxiliem a liderar a igreja naquilo em que não é tão forte. Ele não vai poder passar o bastão da liderança e ficar omisso, mas poderá liderar a visão e delegar muitas coisas do dia a dia da liderança para outras pessoas, como os apóstolos fizeram em Atos 6. De outro lado, se a característica de uma pessoa é mais forte na liderança, provavelmente será alguém mais empreendedor, e precisará buscar ajuda e pessoas para ter auxílio na provisão de pastoreio do povo. 

 

O que o mercado pode ensinar à igreja sobre liderança e valorização de talentos?
Muita coisa. Como cristãos, temos a verdade sobre liderança baseados na Palavra. No entanto, muitas vezes somos amadores no exercício da liderança, mas o mercado é profissional. Uma das coisas que mais percebi quando estudei administração de empresas é que tudo estava na Bíblia. O pessoal do mercado apenas sistematizou os princípios milenares de liderança que estão na Bíblia e os usa melhor do que nós, conseguindo resultados melhores do que nós. Se tivermos a humildade de aprender com os líderes de mercado o que eles têm feito baseados nos princípios bíblicos, teremos uma liderança muito mais significativa e influente. Posso citar algumas coisas como exemplo: o mercado sabe contratar e demitir muito melhor do que nós. O mercado sabe estabelecer metas e persegui-las muito melhor do que nós. O mercado tem visão estratégica de longo prazo muito melhor do que nós. O mercado tem processos muito melhores do que os nossos. O mercado tem gestão muito melhor que a nossa. Mas tudo isso está na Bíblia. Bastaria ler e praticar os princípios de administração que Deus nos deixou, e ensinaríamos ao mercado. 

 

Como desenvolver liderança em igrejas e organizações em que a cultura impede o surgimento de novos talentos?
Próxima pergunta (risos)! Brincadeiras à parte e para ser sincero depois de 40 anos trabalhando com liderança, preciso dar uma resposta bem direta. Creio que se você desenvolver liderança num ambiente em que a cultura não deseja novos líderes, formará líderes para outras igrejas ou organizações. Nenhum líder que ganhe visão vai ficar num lugar que não quer seu talento, a menos que ele possa mudar a cultura desse lugar. Você estará literalmente formando líderes para outras organizações e morrendo gradualmente. 

 

Uma liderança bíblica e correta passa por...
Primeiro por entender o que significa ser discípulo de Jesus e passar por um processo pessoal de transformação de vida. Segundo por entender o significado da bacia e da toalha e da liderança servil. Não significa ter um cargo, mas servir. Terceiro, identificar sua missão de vida alinhada à missão de Deus e focar sua vida nisso. 

 

Conteúdo publicado na edição 14 da Revista RTM Brasil. Leia a publicação completa aqui.