
Brasil mais evangélico: em quais áreas o país deve melhorar?
Por Lucas Meloni
23/04/2025, às 18h30 | Conteúdo atualizado em 23/04/2025, às 18h30
Desde a década de 1990, o movimento evangélico brasileiro vivencia um crescimento sem precedentes. Para se ter uma ideia, um levantamento da Universidade de São Paulo com informações de edições antigas do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que o país saltou de 17 mil templos evangélicos (anos 90) para 110 mil (2019), aumento de 547% em quase três décadas. Até o fechamento desta edição, os dados religiosos do Censo 2022 não tinham sido divulgados, mas a tendência é de que os evangélicos tenham superado um terço da população.
Alguns fenômenos ajudam a explicar este boom. Para Emmanuel Athayde, cientista da religião e professor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo e do Seminário Servo de Cristo, a liturgia mais simplificada (em comparação com a católica), a participação dos leigos, os fatores sociais e a presença religiosa na mídia ajudam a fundamentar boa parte deste crescimento.
“São muitos fatores que ajudam a explicar este aumento, mas sem dúvida algumas contribuições passam pela liturgia mais simples no culto se comparado com o modelo litúrgico da Igreja Apostólica Romana, pela maior participação dos leigos, uma vez que no meio evangélico a participação na música, nas atividades religiosas e administrativas não fica restrita apenas a oficiais da igreja. Além disso, é preciso destacar que os eventos evangelísticos de massa são mais intensos por parte dos evangélicos. Outro fator é a presença das igrejas evangélicas nas mídias. Ao ligarmos a TV, sempre haverá um programa de alguma denominação em qualquer horário que seja”, disse Athayde à Revista RTM Brasil.
O pesquisador Victor Araújo, da Universidade de Zurique e associado ao Centro de Estudos da Metrópole (CEM), da Universidade de São Paulo, destacou em entrevista ao Jornal da USP que a Europa (berço da Reforma Protestante) levou cerca de 500 anos para alcançar o número ao qual o Brasil chegou em décadas.
Tão importante quanto falar sobre quantidade é discutir se essas igrejas vivem a chamada sã doutrina (os princípios bíblicos ensinados de forma correta e saudável).
Evangélicos
Em seu livro “Brasil Polifônico”, o pastor, escritor e conferencista Davi Lago chama a voz evangélica de “incontornável na arena pública nacional”. Lago chama o movimento evangélico de nuvem porque é “heterogênea, fluida e difusa”. No meio das igrejas tidas como históricas, o Brasil tem batistas, presbiterianos, metodistas e luteranos. O meio pentecostal é fortemente baseado em denominações relevantes e muito presentes em periferias e pelo interior do país como Assembleia de Deus e O Brasil para Cristo.
“Não tem como falar apenas em evangélico, mas em movimentos evangélicos. Somos muitos. Observa-se um grande apelo ao sentir. Isso é uma ação muito forte por meio da música, por exemplo. Outro aspecto é o pragmatismo. Muitas igrejas baseiam suas rotas em métricas de crescimento e conduzem suas atividades neste sentido. Outro ponto é a chamada Teologia do Domínio. O que se observa é que alguns grupos entre os evangélicos não têm mais o tradicionalismo. Saem de igrejas tradicionais, vão para igrejas pentecostais e depois para neopentecostais”, complementou Athayde.
A transição de tradições de fé é um aspecto que chama a atenção e preocupa igrejas em diferentes partes do mundo. Dados divulgados em dezembro de 2024 mostram que a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos perdeu cerca de um milhão de membros ativos nos últimos 15 anos, de acordo com dados da denominação.
Somos chamados à fé
A Bíblia destaca o propósito de Deus ao trabalhar na vida dos que foram por ele alcançados. “Com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado”, como traz Efésios 4.12.
A igreja cumpre um papel fundamental na santificação e no trabalhar de Deus na vida de alguém. É por isso que a exortação do autor de Hebreus é “Não deixemos de nos reunir como igreja, segundo o costume de alguns” (10.25). Em 2022, os desigrejados eram, segundo estimativas a partir do Censo 2010, cerca de 16 milhões de pessoas no Brasil, número superior ao de todas as igrejas históricas, ficando atrás apenas de fiéis da Assembleia de Deus.
“Temos de entender o momento e viver mais a responsabilidade. Devemos ter temor e tremor porque fomos chamados para salgar e iluminar este mundo, entendendo que as nossas atitudes influenciam positiva e negativamente. As nossas manifestações e exposições devem ser moderadas porque estamos rodeados de uma nuvem de testemunhas. Nosso papel é dar bom testemunho e não o de provocar escândalos. Mais do que crescimentos quantitativos, nosso papel é voltar sempre às escrituras e instruir esta e a próxima geração para que ocorra desta forma um crescimento evangélico saudável no país”, finalizou Emmanuel.
Reportagem originalmente publicada na Revista RTM Brasil 16.