
Fala, Pastor: Quando Jesus Conta Histórias
Por Convidado(a)
09/09/2025, às 15h10 | Conteúdo atualizado em 09/09/2025, às 15h02
“Com muitas parábolas semelhantes Jesus lhes anunciava a palavra, tanto quanto podiam receber. Não lhes dizia nada sem usar alguma parábola...” (Marcos 4.33-34).
Jesus, o maior mestre que o mundo já conheceu, não ensinava apenas com ideias abstratas ou fórmulas teológicas complexas. Ele falava com histórias. E não eram apenas ilustrações criativas — eram um dos mais eficientes recursos didáticos que poderia ser usado. Estima-se que cerca de um terço de todo o ensino de Jesus tenha sido feito em forma de parábolas.
A palavra grega parabolê, da qual vem a palavra parábola, significa “colocar ao lado de”; no sentido de explicar algo desconhecido a partir de algo já conhecido que lhe é comparado. As parábolas de Jesus não são apenas histórias agradáveis. Elas são convites à reflexão, espelhos para as pessoas e apelos ao arrependimento.
Na Parábola do Semeador, por exemplo, Jesus descreve quatro tipos de solo, mas ao fazê-lo, está descrevendo quatro tipos de coração. Seu objetivo não era “entreter”, mas “despertar”. Ele sabia que muitos ouviriam, mas poucos realmente entenderiam. E ainda assim, Ele contava. As parábolas não são só didáticas — são um teste ado coração do ouvinte, pois todas elas têm o elemento da invocação de resposta, ou seja, ao contar uma parábola, Jesus esperava uma resposta da pessoa à proposta do Reino de Deus.
Como escreveu Isaías, citado por Jesus (Mc 4.12), há quem veja, mas não perceba; ouça, mas não compreenda. Isso porque a parábola exige mais do que audição — exige atenção espiritual. Ela provoca, sacode e desafia para uma mudança de vida.
A parábola é uma espécie de espelho, pois geralmente mostra a realidade da própria pessoa que estava ouvindo a parábola. Entretanto, muitos não gostam do que veem no espelho da parábola e tentam quebrá-lo, como fizeram os fariseus ao ouvirem a parábola dos lavradores maus (Mc 12.1-12). Outros, porém, se comovem, como fez o cobrador de impostos no fundo do templo (Lc 18.13), reconhecendo sua miséria e buscando misericórdia.
As parábolas têm uma característica extraordinária: são simples, mas jamais simplórias. Falam do cotidiano — sementes, pães, vinhas, filhos, ovelhas — mas apontam para o céu e para a eternidade. E sempre há um elemento de surpresa, de choque, algo fora do comum: um pai que corre ao encontro do filho rebelde, um homem que vende tudo por uma pérola, um samaritano que ama melhor do que um sacerdote.
Jesus não jogava palavras ao vento. Cada parábola era um convite: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” E a resposta do coração à mensagem fazia toda a diferença. Não basta ouvir a história — é preciso se enxergar nela.
Hoje, Jesus continua a contar suas parábolas. Não com voz audível, mas através das Escrituras. E cada vez que abrimos a Bíblia e lemos uma parábola, somos desafiados a nos perguntar: “Onde estou nesta história?”
Claiton Kunz é pastor e diretor da Faculdade Batista Pioneira (Ijuí/RS). Texto originalmente publicado na Revista RTM Brasil nº 17.