
Saiba mais sobre os pergaminhos com manuscritos bíblicos localizados na Judeia
Por Lucas Meloni
22/03/2021, às 13h44 | Conteúdo atualizado em 22/03/2021, às 16h55
Pesquisadores a serviço de Israel anunciaram na semana passada a descoberta de pergaminhos com fragmentos de manuscritos bíblicos nas proximidades do Mar Morto, em uma caverna de difícil acesso na região da Judeia. Os estudos sobre os materiais serão aprofundados, mas eles podem fazer parte do conjunto de manuscritos descobertos entre as décadas de 1940 e 1950 naquela mesma localidade.
A identificação desses artefatos foi confirmada pela Autoridade de Antiguidades de Israel e resulta de um intenso trabalho para evitar que saqueadores de antiguidades pudessem furtar o material e comercializá-lo em mercados paralelos. São dezenas de fragmentos com textos bíblicos que, segundo pesquisadores, seriam datados de, pelo menos, dois mil anos atrás.
Jonas Machado, pastor, professor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo e um dos grandes especialistas no estudo sobre manuscritos do Mar Morto, fala sobre algumas particularidades do material encontrado. “Esses fragmentos são, basicamente, uma cópia em grego de alguns trechos bíblicos. É muito importante para o estudo dos textos canônicos, mas é importante lembrar que dentre os manuscritos do Mar Morto há muitas cópias dos textos bíblicos, mas também textos desconhecidos como, por exemplo, o do sacrifício do sábado. Antes de 1952, isso era desconhecido. A maioria dos manuscritos encontrados antes era em hebraico. Os descobertos recentemente estão em grego, portanto, são uma tradução”, observou.
Segundo informações da imprensa internacional, a equipe de pesquisadores já conseguiu reconstruir 11 linhas do texto. Um dos trechos seriam os versículos 16 e 17 do capítulo 8 de Zacarias. Uma parte do livro de Naum também teria sido descoberta entre os manuscritos.
A importância da descoberta
Para Machado, o material evidencia uma preocupação na preservação da Palavra de Deus por parte dos povos mais antigos. “Sem dúvida, um dos campos de importância está na forma como os manuscritos foram preservados e traduzidos. Uma peculiaridade é que, embora o texto tenha sido traduzido para o grego, o nome de Deus foi mantido em hebraico com as quatro letras sagradas. Algo já observado em outros manuscritos. Como o hebraico antigo era escrito somente com consoantes, nós continuamos sem saber como o nome de Deus, tão empregado no Antigo Testamento, era pronunciado. A gente sabe que Jafé e Jeová são aproximações, mas nada exato, justamente porque não há o uso de vogais no original hebraico para que possa haver uma tradução precisa”, comentou.
Estudo
As novas tecnologias e os investimentos feitos para o estudo deste material podem tornar a análise deste material algo mais rápido e detalhado na visão de Machado. Na época da descoberta dos manuscritos do Mar Morto, os pesquisadores (comandados pelo padre Roland de Vaux) perderam o financiamento que tinham e tiveram que conciliar as pesquisas dos fragmentos que haviam encontrado com trabalhos externos.
“Esses fragmentos vêm para nos ajudar a entender melhor aquela época. Certamente, eles servirão também para fazer comparação com o que nós temos hoje. A gente pode observar em algumas traduções que elas têm observações do tipo ‘o hebraico diz isso, mas há uma versão que diz isso e isso’. Em resumo, as versões nos ajudam a elucidar dúvidas. É um material deteriorado e que precisa passar por um processo de limpeza para depois ser analisado de forma mais aprofundada. É como se fosse um quebra-cabeça, mas com peças faltando. Isso deve acontecer mais rápido agora porque há mais material e condições tecnológicas”, disse.
Autoria
Uma corrente de estudos do passado creditava a autoria dos manuscritos do Mar Morto, descobertos em meados do século passado, fosse dos essênios, um povo que vivera afastado do restante da sociedade e que se dedicava a estudar o Pentateuco. Machado destaca que a ideia não é bem aceita mais. “Havia uma teoria que o grupo de Qumram (local da descoberta dos primeiros manuscritos) eram os essênios é muito questionada. Há uma ideia de que aquele grupo pudesse ser uma dissidência dos essênios porque há informações que são contrastantes em relação ao que disse Plínio e Joséfo (historiadores) sobre os essênios e o conteúdo daquele próprio material”, observou. Machado acredita que o estudo mais detalhado dos textos poderão ajudar na identificação (ou pelo menos trazer dicas) sobre a autoria dos manuscritos.
Outras descobertas
Os arqueólogos fizeram outras descobertas junto aos manuscritos divulgados na semana passada. Uma delas é o esqueleto de uma criança. Segundo o jornal Times of Israel, cientistas apontaram que a criança teria entre seis e 12 anos de idade quando morreu.
Uma espécie de cesto, com estimados 10 mil anos, de acordo com os pesquisadores, também foi localizado. O recipiente tem capacidade para suportar de 90 a 100 litros e teria sido feito a partir de material vegetal.
Para saber mais sobre manuscritos do Mar Morto
Os Manuscritos do Mar Morto – Uma Introdução Atualizada (Jonas Machado e Pedro Paulo A. Funari). Editora Annablume.
Anjos, Sacerdotes e Místicos – Identidade e Sectarismo nos Cânticos do Sacrifício Sabático dos Manuscritos do Mar Morto (Jonas Machado). Editora Annablume.